Estratégias políticas e incerteza marcam a disputa acirrada nas eleições presidenciais da Argentina

Nas eleições argentinas, as estratégias políticas estão em jogo e a magnitude da mudança desejada pela população é um tema central. O candidato Javier Milei propõe uma guinada radical, com um drástico corte no gasto público, representado pela sua motosserra. No entanto, surge a dúvida sobre a resistência do apoio popular ao libertário diante do ajuste fiscal que ele propõe.

De acordo com Berensztein, Milei parou de crescer em intenção de voto e corre um risco considerável se não ganhar no primeiro turno. Existe a possibilidade de que o seu teto de crescimento eleitoral seja relativamente baixo. Além disso, há um debate sobre as promessas do ultraliberal, como a eliminação do Banco Central e a dolarização da economia, que são inconstitucionais ou requerem uma maioria parlamentar que ele não terá mesmo se somar todos os votos desta eleição. Milei defende a convocação de plebiscitos, mas os juristas também questionam essa possibilidade.

Enquanto isso, Patricia Bullrich busca se posicionar como a verdadeira possibilidade de mudança, mostrando que sua coalizão terá maioria no Congresso para aprovar as reformas estruturais, além de contar com o apoio de 10 dos 24 governadores. A candidata também aborda bandeiras que Milei menospreza ou nega, como as pautas feministas e ambientais. Segundo o deputado Fernando Iglesias, da coalizão Juntos pela Mudança, Bullrich é a única capaz de oferecer uma mudança possível, razoável e com uma equipe de governo.

Por sua vez, Sergio Massa adota a estratégia do medo, alertando que os seus oponentes vão aumentar tarifas e preços a um ponto em que ninguém conseguirá pagar, além de perderem subsídios sociais. No entanto, isso tem consagrado Javier Milei como a renovação, já que os eleitores do candidato optaram por arriscar por algo novo, trocando a cautela pela aposta.

As pesquisas de opinião têm perdido credibilidade nessas eleições, já que nenhuma previu a liderança de Milei nas primárias de agosto. Os consultores estão optando por não divulgar seus números publicamente devido à dificuldade de obter respostas transparentes e confiáveis dos eleitores. Carlos Fara e Sergio Berensztein preferem falar sobre as tendências indicadas pelos números apresentados.

As pesquisas indicam que Milei lidera a corrida com alguns pontos à frente, mas não o suficiente para vencer no primeiro turno. Massa e Bullrich seguem logo atrás, tecnicamente empatados, com uma ligeira vantagem para o ministro da Economia. A única candidata que supostamente poderia derrotar Milei em um eventual segundo turno é Bullrich, que está em crescimento nesta reta final. No entanto, resta saber se ela cresceu o suficiente para garantir sua presença no segundo turno.

Os indecisos são fator de incerteza nessas eleições, já que de 12% a 15% dos eleitores afirmam estar dispostos a mudar seu voto. Isso é suficiente para alterar qualquer cenário de disputa acirrada. Além disso, cerca de 30% dos eleitores não votaram nas primárias em agosto, o que históricamente beneficia a coalizão de Bullrich. No entanto, a entrada de Milei na disputa pode alterar esse comportamento.

Vale ressaltar que, na Argentina, é possível vencer no primeiro turno com 45% dos votos ou 40% desde que haja uma diferença de, pelo menos, dez pontos em relação ao segundo colocado. Caso ocorra um segundo turno, a data prevista é 19 de novembro.

No cenário pós-eleição, algumas questões preocupam os mercados financeiros. Se Milei vencer, pode ocorrer uma corrida cambial, já que ele propõe a dolarização da economia. Por outro lado, uma classificação de Bullrich para o segundo turno poderia acalmar o mercado, que vê com bons olhos a política econômica da candidata. Já se Massa passar para o segundo turno, indica-se uma provável continuação da atual política econômica, com emissão monetária e um déficit fiscal elevado, o que geraria pressão cambial. Carlos Fara avalia que, se a disputa for entre Milei e Massa, os indicadores financeiros devem ficar no vermelho devido à incerteza que ambos geram.

Além da eleição presidencial, também serão eleitos 21 governadores, senadores de oito províncias e um novo chefe de governo da Cidade Autônoma de Buenos Aires. A disputa está embolada e ainda há muitas incógnitas, o que torna difícil qualquer análise precisa.

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