Repórter São Paulo – SP – Brasil

Discurso extremista de candidato argentino coloca em risco a democracia e permite o uso da violência política, afirma socióloga.

Milhões de argentinos irão às urnas no próximo dia 19 de novembro para decidir quem será o próximo presidente do país em um segundo turno entre o peronista Sergio Massa e o ultraliberal de extrema direita Javier Milei. No entanto, essa eleição não deve ser vista como um pleito comum, pois já está sendo afetada pelas propostas do candidato conservador, as quais representam um risco para a democracia e permitem o uso da violência na política.

De acordo com Lucía Wegelin, socióloga argentina que estuda os discursos de ódio na esfera pública do país, as ideias de Milei têm dominado o debate público desde as primárias, em agosto, até agora, às vésperas do segundo turno. Ela afirma que o “efeito Milei” já pode ser observado no país, mesmo antes do resultado eleitoral, e suas propostas têm efeitos preocupantes além do risco que representam para a convivência democrática.

As propostas inusitadas de Milei incluem a dolarização da economia, a liberação da venda de órgãos humanos e até mesmo a criação de um “mercado de adoção de bebês”. Essas ideias têm chocado os eleitores, mas Wegelin afirma que é necessário levar a sério tais propostas e debatê-las para mostrar que são perigosas.

Além disso, Milei tem adotado uma postura violenta em relação a pautas históricas, como negar os crimes cometidos durante a ditadura militar argentina. Durante um debate presidencial, ele questionou o número de desaparecidos e afirmou que faltaria contar as vítimas das guerrilhas. Wegelin ressalta que essa postura é um problema político, já que os crimes cometidos durante a ditadura foram organizados e planejados pelo Estado.

No entanto, apesar das propostas e posturas controversas de Milei, ele conseguiu surpreender ao ser o mais votado nas primárias. Embora tenha sido ultrapassado por Massa no primeiro turno das presidenciais, Milei pode atrair os votos de Patricia Bullrich, que anunciou formalmente seu apoio a ele no segundo turno.

Wegelin ressalta que a violência discursiva tolerada e as operações que favorecem o ódio na política têm contribuído para a ascensão de candidatos como Milei. Ela afirma que o uso dessas operações nas redes sociais tem levado ao rompimento dos limites do dizível, o que torna ainda mais preocupante a qualidade do debate público. Além disso, a pesquisadora destaca que as propostas perigosas e o discurso violento dos candidatos têm o potencial de perturbar as regras do dizer público e comprometer a democracia.

Em resumo, a eleição presidencial na Argentina não é apenas mais um pleito, pois já está sendo influenciada pelas propostas controversas e violentas de Javier Milei. As ideias do ultraliberal de extrema direita representam um risco para a democracia e permitem o uso da violência na política. É necessário levar a sério tais propostas e debatê-las para evidenciar os perigos que elas representam. Além disso, a ascensão de candidatos como Milei mostra a problemática da violência discursiva tolerada e das operações que favorecem o ódio na política, as quais comprometem a qualidade do debate público e a convivência democrática.

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