Dia de Finados é marcado por documentário que reverencia Elis & Tom e questiona a dualidade da cultura brasileira.

No dia de Finados, uma escolha acidental acabou se revelando acertada ao assistir ao filme “Elis & Tom – Só Tinha de Ser com Você”. Uma data apropriada para reverenciar dois gênios mortos que, em 1974, souberam unir forças para criar um dos maiores discos do Brasil.

O documentário dirigido por Roberto de Oliveira captura todo o talento e vitalidade desses artistas, levando-nos a uma reflexão sobre como um país capaz de produzir tamanha beleza pode também engendrar tanta baixeza nas redes sociais.

Essa reflexão ganha ainda mais força ao visitar o Parque Nacional Serra da Capivara, que revela outro paradoxo brasileiro. Localizado em uma região distante, no meio da caatinga, encontramos monumentos naturais e humanos que remetem a uma riqueza pré-histórica fascinante. Pinturas rupestres com milhares de anos de idade, fósseis de uma megafauna extinta há 10 mil anos e vestígios de ocupação humana antiga são apenas alguns exemplos desse tesouro.

O parque abarca quatro municípios do Piauí: São Raimundo Nonato, Brejo do Piauí, João Costa e Coronel José Dias. Para chegar até lá, é necessário enfrentar poucos voos para São Raimundo Nonato e, em alternativa, mais frequentes para Petrolina, em Pernambuco, que fica a 365 km de distância.

Apesar de já ter visitado a Serra da Capivara há 23 anos, a motivação para essa nova visita foi uma reportagem sobre conflitos na comunidade de pesquisa arqueológica no Brasil. A região abriga não apenas belas formações geológicas, como a Pedra Furada, mas também o Museu da Natureza, uma estrutura de divulgação científica que rivaliza com o famoso Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

Todo esse progresso na estrutura turística e científica do parque só foi possível graças à insistência e imaginação de uma arqueóloga chamada Niède Guidon. Ela dedicou-se a estudar a arte rupestre na região desde a década de 1970 e foi retratada como uma personagem controversa no livro “Niède Guidon: Uma Arqueóloga no Sertão”.

A presença de Guidon foi fundamental para transformar a Serra da Capivara em um verdadeiro ponto turístico, que atrai não apenas os visitantes interessados na pré-história, mas também investimentos e oportunidades para os moradores locais. Ainda existe pobreza na região, mas é notável a ausência de miséria e de poluição plástica que era comum há um quarto de século.

No entanto, durante essas mesmas semanas em que revisitamos a história de Elis & Tom e a Serra da Capivara, egos descontrolados levaram ao fim do podcast Foro de Teresina e tiraram um pouco do brilho da revista Piauí. Um momento de luto, mas também de celebração pelo que há de melhor resistindo no Brasil.

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