Essa década sem a presença física do Tiãozão tem sido um verdadeiro desafio, uma jornada de reconstrução interna diante da ausência externa. Lembro claramente daquele 2 de julho, quando o relógio marcou quinze para as onze da manhã e um pressentimento gélido percorreu minha espinha. Os sinais estavam ali, a fragilidade da vida se revelando de forma cruel.
A doença se instalou no meu pai, a diabetes descompensada fez sua vítima. A dor se espalhou pelo seu corpo, paralisando seus membros e transformando sua existência em um pesadelo doloroso. A jornada pelos hospitais, a angústia da espera por um leito na UTI, a sensação de impotência diante da gravidade da situação.
Lembro-me da enfermeira que me deu a notícia, da maneira como fui informada da gravidade da situação. A falta de humanidade e empatia em meio ao caos da doença martelando em nossas vidas. As imagens das dores físicas do meu pai, o sofrimento exposto em carne viva, são cicatrizes que nunca se apagarão da minha memória.
Esses 10 anos têm sido uma luta diária para sobreviver à ausência, para reconstruir a presença do meu pai através das lembranças e das histórias que carrego comigo. Na terapia, reconstruí o pai de todas as formas possíveis, buscando conforto nas lembranças e na essência do homem que ele foi.
A dor da perda nunca se dissipa, a saudade é uma companheira constante. A cada aniversário de morte, a cada lembrança de um gesto ou uma palavra, o buraco deixado pela ausência se torna mais evidente. Mas nessa caminhada de luto e saudade, encontro forças na reconstrução da memória do meu pai, na honra à sua vida e na busca por um novo tempo, onde sua presença se faz sentir em cada detalhe do meu ser.
Assim, aos 33 anos e completando uma década sem a presença física do meu pai, celebro a sua vida e o seu legado. O tempo pode ter se estagnado naquele 2 de julho, mas dentro de mim, a jornada de reconstrução e reinvenção continua, em memória e amor eterno ao Tiãozão, meu pai.