Desembargador suspendido após soltar chefe de facção criminosa na Bahia

A prisão de Ednaldo Freire Ferreira, conhecido como Dadá, no último mês de setembro, chamou atenção pela forma como ocorreu. Dadá, um dos traficantes mais procurados da Bahia, foi abordado enquanto dirigia um veículo utilitário de luxo na BR-232, durante uma ação de rotina da Polícia Rodoviária Federal.

O motorista apresentou aos policiais uma habilitação falsa, o que levantou suspeitas e levou à descoberta da verdadeira identidade do indivíduo. Menos de um mês depois, Dadá já estava em liberdade. Seu alvará de soltura foi concedido pelo desembargador Luiz Fernando Lima, do Tribunal de Justiça da Bahia, que converteu sua prisão preventiva em domiciliar.

Essa decisão causou grande irritação na cúpula da segurança da Bahia, além de críticas por parte do governo federal. Como resultado, o desembargador foi afastado pelo Conselho Nacional de Justiça.

Dadá cresceu na cidade de Irecê, no Centro-Norte da Bahia, e é um dos fundadores do Bonde do Maluco (BDM), uma das maiores e mais violentas facções criminosas do estado. O grupo surgiu em 2015, no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, e se tornou conhecido por dominar territórios na capital baiana e também em cidades do interior.

Após a morte do líder anterior, José Francisco Lumes, conhecido como Zé de Lessa, Dadá assumiu a liderança do BDM. Desde então, a facção tem entrado em confronto com o Comando Vermelho, facção carioca que se aliou ao Comando da Paz, grupo criminal baiano.

Essa disputa tem sido responsável pelo aumento da violência na Bahia nos últimos anos. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estado registrou o maior número absoluto de mortes violentas no Brasil desde 2019, chegando a 6.659 assassinatos somente em 2022.

Dadá já havia sido preso anteriormente por tráfico de drogas e organização criminosa, sendo investigado por sua atuação em cidades como Irecê, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, além de parte do estado de Tocantins. Em 2016, após cumprir parte de sua pena, foi beneficiado com uma saída temporária e não retornou à prisão.

Ele foi recapturado pouco tempo depois e apontado como líder de uma quadrilha envolvida em lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Nas últimas semanas, novamente foi preso em Pernambuco, mas conseguiu ser solto mediante a concessão do alvará de soltura.

A decisão do desembargador em soltar Dadá provocou polêmica e levou ao seu afastamento pelo CNJ. Atualmente, o traficante é considerado foragido e a polícia segue em busca de sua localização.

Tanto o advogado de Dadá quanto o desembargador afirmaram que estão empenhados em suas respectivas defesas. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, por sua vez, não comentou diretamente a decisão do desembargador, mas destacou a importância da atuação conjunta dos poderes no combate ao crime organizado.

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