Repórter São Paulo – SP – Brasil

Descoberta impressionante: Rede de sensores nucleares revela existência de grupo raro de baleias-azuis-anãs no oceano Índico.

Por gerações, essas criaturas misteriosas nadaram pelos oceanos sem jamais cruzar o caminho de algum ser humano. Com até 24 metros de comprimento e pesando cerca de 90 toneladas, esses enormes animais conseguiram passar despercebidos. A descoberta de um grupo de baleias-azuis-anãs no oceano Índico em 2021 surpreendeu a comunidade científica, principalmente pela maneira como foram encontradas.

A pergunta que fica é: o que as bombas atômicas têm a ver com um grupo de baleias? A resposta está em uma rede global de sensores colocados em locais remotos ao redor do mundo para detectar testes nucleares clandestinos. Esses sensores foram instalados na década de 1990 e têm como objetivo buscar informações sobre explosões nucleares. No entanto, ao longo dos anos, essa rede também capturou outros sons e estrondos vindos de oceanos, solos e atmosfera, que se revelaram de grande benefício para a ciência.

A história por trás da descoberta dessas baleias-azuis remonta à década de 1940, quando os humanos descobriram o poder do átomo. Após anos de instabilidade e medo, muitos governos concordaram que a transparência era necessária. Foi então que surgiu o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT), que criou uma rede capaz de detectar uma detonação nuclear em qualquer lugar do mundo.

Com mais de 300 instalações em todo o globo, a rede consegue detectar sons, ondas de choque e materiais radioativos provenientes de explosões nucleares. Foi graças a essa rede que a Coreia do Norte, por exemplo, foi flagrada realizando testes nucleares. Além disso, a rede também detectou grandes explosões não nucleares, como a do porto de Beirute em 2020.

Recentemente, os pesquisadores começaram a explorar a utilidade dos dados coletados pela rede. Em uma conferência em Viena, em junho, diversos cientistas apresentaram suas descobertas. Uma equipe da Alemanha mostrou que os sensores hidroacústicos conseguem monitorar o ruído causado pelo transporte marítimo, enquanto pesquisadores japoneses estudaram a atividade vulcânica submarina. Um cientista brasileiro falou sobre o infrassom gerado pelas auroras boreais e austrais.

Em relação às baleias-azuis-anãs, essas criaturas foram encontradas quando pesquisadores australianos decidiram analisar mais de perto os sons do oceano usando os sensores hidroacústicos da rede. Com isso, eles descobriram um novo som, chamado de “Canção de Chagos”, que pertencia a uma população inteiramente nova de baleias azuis anãs.

Essa descoberta é muito significativa, já que as baleias-azuis-anãs são consideradas extremamente raras. Durante o século 20, elas foram caçadas quase até à extinção. O número estimado de baleias-azuis chegou a cerca de 239 mil na década de 1920, mas caiu para apenas 360 em 1973.

O Sistema Internacional de Monitoramento continua a desempenhar um papel crucial na segurança global, detectando testes nucleares e monitorando a atividade sísmica em todo o mundo. No entanto, essa rede também se revelou uma poderosa ferramenta para a ciência, descobrindo informações valiosas sobre a natureza e fornecendo dados que de outra forma seriam ignorados.

Embora não consigamos ver essas majestosas baleias-azuis-anãs, pelo menos podemos ouvir sua canção única, graças à rede de sensores instalada pelo mundo. Essa descoberta é apenas mais um exemplo de como a ciência e a tecnologia podem ser utilizadas para o bem da humanidade e da natureza.

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