Além dos aspectos geopolíticos já amplamente discutidos, como a ampliação do bloco, o veto brasileiro à Venezuela e as posições comuns sobre o Oriente Médio, a Declaração de Kazan vai além, sendo o documento mais articulado já produzido pelo grupo em diferentes áreas. Estabelece uma agenda de cooperação abrangente e profunda, representando um programa claro para o bloco, mas também evidenciando suas contradições e desafios.
A leitura atenta da Declaração de Kazan revela que o processo de decisão por consenso durante a expansão do bloco tem seu preço, com parágrafos inseridos no documento mediante concessões e barganhas nos corredores palacianos da Rússia. A nova categoria de associação ao bloco, denominada de “país-parceiro”, dilui a capacidade de influência dos novos membros.
A expansão do Brics pode ser vista como uma tentativa de remodelação da atual governança global, oferecendo oportunidades de interação em áreas como mudanças climáticas, cadeia de produção de minérios e colaboração esportiva. O desafio do novo Brics será a construção de consenso entre seus membros e parceiros, além de lidar com possíveis conflitos e estiramentos internos.
A Declaração de Kazan também demonstra posições coordenadas em relação a questões como sustentabilidade, sanções, políticas ambientais e direitos humanos. A participação privilegiada do Brasil nesse processo de expansão do bloco pode ser vista como uma oportunidade para influenciar a formação normativa do grupo.
Em suma, a Declaração de Kazan representa um importante marco para o Brics, oferecendo uma visão abrangente das intenções de cooperação e dos desafios a serem enfrentados pelo bloco no cenário geopolítico global. A atenção dedicada a esse documento reflete a relevância e o impacto que o Brics tem no contexto internacional.