Repórter São Paulo – SP – Brasil

Crise humanitária na selva de Darién coloca migrantes em extrema vulnerabilidade e requer cooperação internacional.

A crise migratória na região da selva de Darién, entre o Panamá e a Colômbia, tem revelado uma situação de extrema vulnerabilidade para os migrantes. De acordo com relatos de representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), as pessoas que cruzam essa região têm testemunhado uma cena chocante de corpos ao longo do caminho.

Conversando com várias pessoas, a representante do ACNUR destacou que muitas delas relataram ter visto entre um e 15 corpos durante a travessia. Além disso, aqueles que não viram os corpos sentiram o cheiro forte que exalava da área. Uma das mulheres entrevistadas não conseguia se esquecer desse odor perturbador.

A vulnerabilidade dos migrantes nessa região é agravada pela falta de assistência local. Abel Núñez, diretor-executivo da CARECEN, uma organização que apoia imigrantes nos Estados Unidos, explica que muitos governos locais veem esse fenômeno como uma ameaça à segurança e, por isso, optam por políticas de exclusão ao invés de oferecer assistência.

Durante reuniões com prefeitos da região de Darién, Núñez constatou que muitos deles se referem aos imigrantes como uma praga e afirmam que eles trazem a criminalidade. No entanto, Núñez ressalta que essa criminalidade já existia na área, e o que acontece agora é que os migrantes se tornam uma população mais vulnerável para ser explorada.

Apesar dessas dificuldades, a solidariedade das comunidades indígenas tem se destacado nesse cenário. Há décadas, essas comunidades acolhem os migrantes e o ACNUR tem colaborado com elas nesse trabalho. No entanto, a dimensão da tragédia é tão grande que toda a ajuda parece insuficiente.

Margarida Loureiro, representante do ACNUR, ressalta que a região de Darién é extremamente remota e não possui estradas, o que dificulta o acesso das autoridades de fronteira e dos agentes humanitários. Diante disso, o ACNUR e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) reconhecem os esforços feitos pelo Panamá, mas afirmam que a crise só pode ser enfrentada em nível supranacional.

Loureiro destaca a necessidade de expandir os canais regulares para refugiados e migrantes, fortalecer o sistema de asilo e encontrar alternativas de proteção na região. Além disso, é fundamental promover a estabilidade nos países de origem dessas pessoas, para que elas não sejam forçadas a deixar suas casas.

Giuseppe Loprete, também do ACNUR, concorda com essa perspectiva e questiona a efetividade das medidas de deportação. Segundo ele, a história mostra que as deportações não têm muito impacto sobre os fluxos migratórios de grande proporção. A tendência é que as pessoas deportadas retornem por canais irregulares.

Portanto, é evidente que a crise na região de Darién exige uma resposta conjunta e solidária por parte dos países envolvidos. É necessário mais apoio, cooperação internacional e responsabilidade compartilhada para proteger a dignidade e os direitos dos migrantes que enfrentam essa jornada perigosa em busca de uma vida melhor.

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