A instabilidade do acordo IMEC (acrônimo de Índia, Israel, Emirados Árabes e China) parece ser um problema cada vez mais complexo, tendo em vista as diversas complicações que já surgiram mesmo antes do bombardeio israelense a Gaza. O IMEC já enfrentava sérios desafios, entre os quais se destacam a dificuldade em isolar a China, a dependência do financiamento privado, a disputa entre a Turquia e a Grécia nas águas do corredor, e a necessidade de uma “normalização” entre a Arábia Saudita e Israel.
Em primeiro lugar, a tentativa de isolar a China parece utópica, visto que o principal porto grego do corredor – o Porto de Pireu – é gerido pela China Ocean Shipping Corporation. Além disso, os portos de Dubai contam com investimentos consideráveis do porto chinês de Ningbo-Zhoushan e do porto marítimo de Zhejiang. Essas relações comerciais e de investimento tornam a exclusão da China do IMEC uma tarefa complicada.
Em segundo lugar, o IMEC depende fortemente do financiamento do setor privado, o que coloca em evidência a ligação do Grupo Adani, que possui laços estreitos com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, com os portos de Mundra (Gujarat, Índia) e de Haifa (Israel) e a busca por uma cota no porto do Pireu. Tais relações parecem dar ao corredor IMEC ares de cobertura política para investimentos privados.
A disputa entre a Turquia e a Grécia pelas águas do corredor é outro ponto de tensão, com o governo turco chegando a ameaçar com uma guerra caso a Grécia avançasse com seus projetos.
Além disso, todo o projeto depende da “normalização” entre a Arábia Saudita e Israel, uma extensão dos Acordos de Abraão que ainda parecem distantes de se concretizarem. Os bombardeios de Israel à Gaza congelaram esse processo e aumentaram as incertezas em torno do futuro do IMEC.
Projetos anteriores de rotas comerciais indianas, como o Corredor Internacional de Comércio Norte-Sul e o Corredor de Crescimento Ásia-África, não passaram do papel para o porto por uma série de razões. E agora, o IMEC parece estar seguindo o mesmo caminho, em parte devido aos bombardeios de Gaza por Israel, mas também devido à fantasia de Washington de que pode “derrotar” a China numa guerra econômica.
Diante desse cenário de incertezas e complicações já apresentadas pelo acordo, o futuro do IMEC parece estar cada vez mais nebuloso e dependente da superação de obstáculos dos mais diversos.
Por [nome do jornalista]