Günter Schwaiger, cineasta de 58 anos que dirigiu o aclamado documentário “Quem tem medo de Braunau?”, critica a decisão do governo austríaco. Segundo ele, transformar a casa de Hitler em uma delegacia de polícia é “um sinal completamente errado” e representa “um tapa na cara das vítimas”. Schwaiger ressalta que Braunau não é uma cidade nazista e que os moradores não têm culpa pelo passado histórico de Adolf Hitler.
A iniciativa cidadã Diskurs Hitlerhaus também se mobilizou contra a proposta do Ministério do Interior. A porta-voz Eveline Doll afirma que o efeito simbólico dessa decisão seria catastrófico, considerando o papel questionável da polícia durante a era nazista. Ela ressalta que há muitas outras boas ideias e sugestões sobre como usar a casa de forma responsável e inteligente para a história contemporânea.
A busca por um uso apropriado para a casa já acontece há algum tempo. Após a anexação da Áustria pelo regime nazista em 1938, o prédio foi adquirido pelo Partido Nacional-Socialista e se tornou um centro cultural. Após a guerra, a casa foi devolvida aos seus antigos proprietários e o Estado se tornou o locatário. Desde 2011, no entanto, o imóvel está vazio e foi expropriado em 2016 para evitar que caísse nas mãos de neonazistas.
Uma comissão composta por historiadores e políticos foi nomeada para encontrar uma solução historicamente correta para a casa. A conclusão foi de que era necessário romper com o simbolismo do local e sugeriu um uso social ou oficial-administrativo. Projetos educacionais e exposições de história contemporânea foram desencorajados.
O presidente da Comunidade Judaica de Viena, Oskar Deutsch, membro da comissão, destaca a importância de evitar que a casa se torne um local de peregrinação para neonazistas. Ele argumenta que instalar uma delegacia de polícia no local seria uma forma de tomar medidas contra a repetição do passado nazista.
No entanto, uma pesquisa realizada pela iniciativa Diskurs Hitlerhaus mostra que a população é majoritariamente contra a ideia de transformar a casa em uma delegacia de polícia. A maioria das pessoas entrevistadas prefere que o imóvel seja usado para uma instituição que trate do nazismo, da memória, do antifascismo, da tolerância e da paz.
Ainda há uma possibilidade de que a associação vienense Amigos Austríacos de Yad Vashem utilize o local para abrigar permanentemente uma exposição sobre não judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus durante o Holocausto. Essa ideia está sendo considerada como uma base para discussão.
Enquanto isso, o projeto de converter a casa de Hitler em uma delegacia de polícia segue em frente, com previsão de início das obras em outubro. No entanto, a discussão continua e é possível que novos desdobramentos aconteçam em relação ao destino desse imóvel histórico.