Compras internacionais alteram perfil do consumidor na fronteira Brasil-Paraguai: menos sacoleiros e mais turistas e contrabandistas.

Turistas substituem sacoleiros e contrabandistas na fronteira do Paraguai

A dinâmica de compras na fronteira do Paraguai com o Brasil tem passado por significativas mudanças nos últimos tempos. A movimentação intensa de sacoleiros em direção a Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, característica marcante nas últimas décadas, tem sido substituída por turistas e compradores que optam pelo envio de produtos pelo correio.

O principal fator dessa modificação se deve ao risco e aos custos envolvidos na viagem para a fronteira. O dólar elevado, ameaças de roubos de produtos nas estradas e o aumento da fiscalização das autoridades brasileiras têm desestimulado os consumidores convencionais. Dessa forma, muitos optam por encomendar produtos e evitam os riscos e gastos desnecessários.

Os números revelam o impacto dessa transformação. Em outubro deste ano, até 147 ônibus foram apreendidos nas proximidades da fronteira, um volume consideravelmente menor do que há uma década, quando o número chegou a ser mais que o triplo. Além disso, as apreensões na região de Foz do Iguaçu somaram R$450,5 milhões de janeiro a setembro, um aumento significativo em comparação com o mesmo período de 2022.

Entretanto, mesmo com o declínio do movimento de compradores na fronteira, quadrilhas permanecem atuando na região devido aos preços atraentes para o comércio ilegal em larga escala. Cigarros representam o principal item apreendido, totalizando R$176 milhões neste ano.

A diversificação dos produtos contrabandeados é notável: foram apreendidos R$107 milhões em eletroeletrônicos, R$60 milhões em veículos, R$16,8 milhões em produtos de informática e R$6,5 milhões em bebidas alcoólicas. Além disso, a presença de CDs e DVDs em menores quantidades sinaliza uma tendência ao desaparecimento desses itens.

O presidente do Fórum Nacional de Combate à Pirataria, Edson Vismona, afirmou que o mercado ilegal agora é protegido por organizações criminosas, o que tem contribuído para o aumento do contrabando de cigarros. Ele ainda expressou preocupação com a isenção de imposto para compras de até US$50, que, na sua visão, facilita a penetração de mercadorias ilícitas no Brasil.

Diante desse cenário, as autoridades têm intensificado o combate ao contrabando por meio de operações conjuntas e investimentos em tecnologia. A Receita Federal utiliza drones para monitorar a movimentação de barcos no rio Paraná, enquanto a Polícia Rodoviária Federal recebeu um veículo blindado para suas operações. As obras da nova ponte entre o Brasil e o Paraguai também têm gerado preocupações, uma vez que contrabandistas têm aproveitado para passar produtos vindos do Paraguai.

Apesar do impacto nas dinâmicas económicas da região, a Embaixada do Paraguai não retornou as tentativas de contato até a conclusão desta reportagem, não se pronunciando sobre as medidas tomadas para enfrentar o contrabando. A expectativa é que, com a intensificação das ações de combate, a dinâmica de compras no Paraguai continue a evoluir, afastando-se gradualmente do mercado ilegal e aproximando-se do comércio regular.

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