Repórter São Paulo – SP – Brasil

Comitiva da Apib se retira de audiência de conciliação no STF e critica tentativa de solução negociada para questão do marco temporal.

A comitiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) protagonizou um episódio emblemático durante a audiência de conciliação realizada com representantes dos demais poderes. A entidade, responsável por um processo em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) contestando a constitucionalidade da lei do marco temporal, decidiu se retirar do encontro em virtude do que considerou uma tentativa ilegítima de solução negociada proposta pelo ministro Gilmar Mendes.

A lei do Marco Temporal, aprovada em 2023 logo após a decisão do STF declarando inconstitucional o critério que estabelece como válidas apenas as demarcações de terras indígenas ocupadas na data da promulgação da Constituição, vem gerando intensos debates no cenário político nacional. O relator do processo que trata da nova legislação, Gilmar Mendes, buscou promover uma mediação entre representações indígenas, setores do agronegócio, governo e Congresso Nacional como forma de buscar uma solução consensual e evitar novas contestações.

No entanto, a Apib recebeu a proposta com desconfiança, alegando falta de paridade nas negociações e problemas relacionados à participação e à tradução nas reuniões. O clima de tensão se intensificou com os ataques violentos de fazendeiros contra aldeias indígenas nas regiões Sul e Centro-Oeste, culminando na decisão da entidade de se retirar da mesa de negociação.

Na terça-feira (28), a Apib anunciou oficialmente sua saída da tentativa de acordo, destacando a falta de consideração de suas propostas e o desrespeito aos seus direitos durante o processo de conciliação. O coordenador executivo da entidade pela região Sul, Kretã Kaingang, enfatizou a impossibilidade de continuar em um ambiente desfavorável aos povos indígenas.

Além disso, Mauricio Terena, coordenador jurídico da Apib, criticou a possível substituição da entidade pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na câmara de conciliação e reivindicou que o processo seja discutido diretamente no plenário do STF. A entidade também encaminhou um comunicado ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, formalizando os motivos de sua saída da audiência e reforçando seus pedidos por equilíbrio de forças nas discussões.

Diante desses desdobramentos, a questão do marco temporal e a disputa pela demarcação de terras indígenas permanecem como temas centrais de um embate que envolve interesses políticos, econômicos e culturais fundamentais para o Brasil. A posição da Apib demonstra a resistência e a determinação dos povos indígenas em defender seus direitos e suas terras frente a atos que ameaçam sua existência e sua cultura.

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