Repórter São Paulo – SP – Brasil

Chefes de Estado africanos pedem reestruturação urgente nas relações com nações ricas durante cúpula climática em Nairóbi.

Chefes de Estado de toda a África concluíram na quarta-feira (6) uma cúpula climática inaugural em Nairóbi, capital do Quênia, emitindo uma declaração que pede uma reestruturação urgente da forma como as nações mais ricas se relacionam com o continente.

A declaração ressaltou que, em vez de ser uma vítima infeliz, a África está preparada para liderar em questões de energia limpa e gestão ambiental. No entanto, para que isso aconteça, os países industrializados do mundo devem desbloquear o acesso à sua riqueza, por meio de investimentos, em vez de relegar suas contribuições à ajuda depois de ocorrerem desastres relacionados ao clima.

A falta de financiamento é um dos principais problemas que divide as nações ricas e pobres, à medida que o mundo busca reduzir as emissões de dióxido de carbono. Esse será um dos principais pontos de discórdia na COP28, cúpula climática global da ONU que acontecerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a partir de 30 de novembro. A reunião em Nairóbi foi um esforço dos países mais pobres para amplificar seu argumento.

Durante o evento, investidores anunciaram que destinarão cerca de US$ 23 bilhões para projetos que incluem microrredes solares, mercados de carbono e reflorestamento. No entanto, não está claro quanto desse montante representa compromissos reais, e não apenas intenções.

O presidente queniano, William Ruto, que atuou como anfitrião e mestre de cerimônias da cúpula, destacou que a África possui 60% do potencial mundial de energia renovável e quase um terço dos minerais cruciais para eletrificar indústrias atualmente dependentes de combustíveis fósseis. No entanto, 600 milhões de pessoas no continente têm pouco ou nenhum acesso à eletricidade.

Durante a cúpula, os líderes africanos lamentaram a falta de urgência no cumprimento das promessas de financiamento. Os investimentos em infraestrutura, como energias renováveis, nos países africanos são considerados arriscados demais por instituições multinacionais de crédito, devido a preocupações com a gestão econômica, o peso da dívida, a corrupção e os conflitos.

A declaração emitida na cúpula, chamada de Declaração de Nairóbi, servirá como base para a posição comum da África antes das conversações sobre o clima em Dubai.

A cúpula atraiu dezenas de milhares de delegados de todo o mundo. Os eventos, realizados no Centro Internacional de Convenções Kenyatta, deram a sensação de uma feira comercial, com a presença de bancos, empresas de private equity, instituições filantrópicas e governos doadores.

Apesar das promessas feitas no passado de investir mais de US$ 100 bilhões em financiamento relacionado ao clima nos países menos desenvolvidos, os países ricos ficaram muito aquém dessas metas, ao mesmo tempo em que investiram bilhões de dólares em energias renováveis em seus próprios países.

A tensão em relação ao financiamento climático foi evidente durante a cúpula. Os líderes africanos pediram aos investidores, especialmente ocidentais, que coloquem seu dinheiro onde dizem. O financiamento concessional, que são empréstimos a taxas de juros abaixo do mercado e com prazos de reembolso mais brandos, foi destacado como uma das principais demandas.

Grandes quantidades desse financiamento poderão vir do Banco Mundial e do FMI, entre outros grandes credores, se eles cumprirem as reformas prometidas na avaliação de riscos e na incorporação de considerações climáticas na estruturação de empréstimos.

A cúpula climática em Nairóbi serviu como um chamado para que os países mais ricos invistam na África e reestruturem suas relações com o continente em termos de energia limpa e gestão ambiental. Resta esperar se os compromissos anunciados serão cumpridos e se os países ricos adotarão uma abordagem mais abrangente em relação ao financiamento climático.

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