Repórter São Paulo – SP – Brasil

Assassinato de Ângela Diniz em 1976 é tema de série de podcasts e motiva debate sobre ‘legítima defesa da honra’

No último dia 30 de dezembro, completaram-se 44 anos do assassinato brutal de Ângela Diniz, mais conhecida como a “pantera de Minas”. O crime chocou o país e marcou um importante momento na luta pelos direitos das mulheres. A vítima, de apenas 32 anos, foi morta por Raul Fernando do Amaral Street, mais conhecido como Doca Street, seu ex-companheiro, na casa em que viveram juntos por dois meses, em Búzios, balneário do Rio de Janeiro.

Doca disparou quatro tiros contra Ângela, sendo três no rosto e um na nuca, tirando a vida da jovem de forma brutal. O crime foi motivo de muita comoção e ganhou destaque na recente série de podcasts intitulada “Praia dos Ossos”, nome dado à praia onde o casal tentava viver longe dos olhares curiosos das grandes cidades.

No primeiro julgamento de Doca, sua defesa, liderada pelo renomado advogado Evandro Lins e Silva, conseguiu uma pena extremamente branda para o assassino: apenas dois anos de prisão. A argumentação utilizada foi a “legítima defesa da honra”, um conceito ultrapassado e machista que absolveu o réu, causando indignação nos movimentos feministas da época. Foi nesse momento que surgiu o lema “quem ama não mata”, que ecoou em protestos por todo o país.

No entanto, em 1981, Doca foi submetido a um novo julgamento e foi condenado a 15 anos de prisão, em uma reviravolta na história. E, finalmente, em agosto deste ano, o Supremo Tribunal Federal declarou a “legítima defesa da honra” inconstitucional em casos de feminicídio ou agressão contra mulheres, reforçando a importância de se combater essa ideia retrógrada que perpetua a violência de gênero.

Nesse contexto, o diretor de cinema Hugo Prata decidiu contar a história de Ângela Diniz em um filme, após a realização do seu primeiro longa-metragem sobre a cantora Elis Regina. A vida de Ângela sempre esteve presente em sua família, e ele sentiu a necessidade de dar voz e visibilidade à trajetória da vítima.

A estratégia da defesa no primeiro julgamento, ao desqualificar a vítima e utilizar a “legítima defesa da honra”, foi algo que marcou profundamente a vida de Ângela e de sua família. Prata percebeu a importância de abordar a história de uma perspectiva diferente, não focando nas polêmicas em torno da vida de Ângela, mas sim na brutalidade do crime cometido contra ela.

É fundamental compreender que, independentemente do estilo de vida que Ângela levava, nada justifica sua morte violenta. Desqualificar a pessoa assassinada é uma estratégia cruel e inaceitável. O filme de Hugo Prata surge como uma tentativa de dar outro olhar a essa tragédia, contribuindo para a conscientização sobre a violência de gênero e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

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