Essa tendência tem levantado preocupações, especialmente entre especialistas como a socióloga e jurista Carolina Ricardo, diretora do Instituto Sou da Paz. Carolina alerta para o fenômeno que ela chama de “policialismo”, referente ao uso excessivo das carreiras e dos discursos ligados às pautas de segurança pública como estratégia eleitoral. Ela destaca que, embora a participação de policiais na política não seja necessariamente um problema, a falta de regulamentação nesse processo pode afetar tanto a organização interna das forças de segurança quanto os índices de letalidade em campo.
É importante ressaltar que a politização das forças de segurança pode resultar em consequências negativas, como a diminuição da eficácia e um aumento da letalidade nas operações. A pesquisadora também aponta o conflito de interesses que ocorre quando o trabalho policial é utilizado para fins eleitorais, em detrimento da segurança pública.
Um exemplo citado por Carolina Ricardo é o caso do coronel Aleksander Lacerda, da Polícia Militar de São Paulo, que em 2021 foi afastado do cargo após manifestações políticas em suas redes sociais, comprometendo a neutralidade e a eficiência da corporação. Essas ações, muitas vezes motivadas por interesses pessoais, podem resultar em um enfraquecimento da instituição e impactar adversamente o cumprimento dos protocolos de segurança.
Além disso, a interferência de interesses eleitorais nas forças de segurança também representa um risco para a democracia. O uso político das instituições policiais pode minar a imparcialidade do monopólio do uso da força e favorecer discursos autoritários, como evidenciado nos recentes ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal.
Diante desse cenário, Carolina Ricardo defende a necessidade de estabelecer regulamentações mais rígidas para a participação de policiais na política, a fim de prevenir o uso indevido das corporações como instrumento eleitoral e garantir a integridade das instituições de segurança e a estabilidade democrática. A falta de controle nesse processo poderia resultar em consequências ainda mais graves no futuro, colocando em risco a segurança e a democracia do país.