Após 3 séculos, poemas inéditos de Gregório de Matos são finalmente lançados em livro, revelando um lado desconhecido do célebre poeta.

Pela primeira vez, um conjunto de poemas atribuídos ao renomado poeta Gregório de Matos, conhecido como Boca do Inferno, foi compilado e publicado em livro. Depois de mais de 300 anos desde que foram escritos à mão, os poemas do chamado “Manuscrito Lamego” finalmente vêm a público, integrando a Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira, que estará disponível nas bancas a partir do próximo domingo, dia 27.

Este manuscrito, pertencente à coleção do colecionador Alberto Lamego, é uma valiosa obra que contém poesias escritas ainda no século 17. O volume original está localizado no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e permaneceu inédito por muitos anos. Agora, com a edição, estudo e revisão de Marcello Moreira, do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, este livro traz à tona poemas clássicos e menos conhecidos do autor.

Gregório de Matos foi um influente poeta soteropolitano, famoso por sua verve satírica. Suas obras eram mais voltadas para serem escutadas do que para serem lidas, geralmente circulando em folhas avulsas conhecidas como volantes. Ele era tão influente que muitos poemas de outros autores eram erroneamente atribuídos a ele.

Segundo Marcello Moreira, não existem manuscritos autógrafos de Gregório de Matos que tenham chegado até os dias atuais. Os que hoje estão em nossa posse são chamados apógrafos, ou seja, manuscritos cuja origem não é certificada. Isso torna o “Manuscrito Lamego” ainda mais especial, pois contém uma variedade de poemas que são obrigatórios para qualquer antologia e outros que são menos conhecidos, mas igualmente relevantes.

Entre os poemas populares atribuídos a Gregório de Matos, temos sátiras cômicas como aquela que fala sobre Laura, uma mulher de grandes nádegas e seios. Já entre os poemas menos conhecidos, destaca-se o “Verdades do autor”, um poema extenso que parece ser um exercício escolar para internalizar princípios de retórica, gramática e poética.

No entanto, é importante ressaltar que as sátiras de Gregório de Matos não eram apenas para fazer rir, mas também possuíam um tom moralizante. Suas obras atacavam vícios e pecados, exagerando características físicas para tornar mais evidente o escândalo do pecado. Por isso, os leitores encontrarão versos como “os peidos fedem à merda” e “no cu o heis de beijar” em “Poemas do Manuscrito Lamego”.

A fama de Gregório de Matos como poeta satírico foi imortalizada ao longo dos anos. Segundo Alcir Pécora, professor de teoria literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), suas sátiras feriam com o riso e mordiam como cão, mostrando por que ele recebeu o apelido de Boca do Inferno.

Os interessados em adquirir este livro podem encontrá-lo nas bancas a partir do dia 27, ou então acessar o site da coleção para mais informações sobre a compra. Os preços variam de acordo com a forma de compra, sendo R$25,90 o valor do volume individual nas bancas e R$638,44 para a coleção completa para assinantes da Folha.

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