A vulnerabilidade da esquerda frente à pauta de segurança pública e a ascensão da extrema direita

Na época em que a extrema direita ainda não tinha ganhado força, o Partido dos Trabalhadores (PT) evitava debater abertamente sobre a segurança pública no país. Enquanto governava, o partido adotava uma postura crítica em relação à criação de um ministério dedicado à área e se contentava em prestar contas de um projeto pouco expressivo de patrulhamento de fronteiras com aeronaves não tripuladas.

O PT acreditava que trazer o tema para discussão no Palácio do Planalto poderia ser uma armadilha política. Como a responsabilidade pela segurança pública recai, em sua maioria, sobre os estados, a ideia de se unir aos governadores para debater o assunto não parecia ser uma boa estratégia. Além disso, o partido temia que a defesa dos direitos humanos fosse utilizada por apoiadores da violência policial como uma oportunidade para promover sua agenda.

No entanto, a esquerda demorou a perceber que não poderia mais ignorar o tema da segurança pública. O esforço para elaborar, às pressas, um plano nessa área foi um sinal claro de que o ex-presidente Lula e seus aliados não estavam preparados para lidar com as mudanças políticas e sociais dos últimos anos.

A retórica populista que impulsionou a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência foi um indicativo óbvio de que os eleitores não estavam interessados nos detalhes das atribuições do governo federal. O discurso duro de combate à violência do capitão encantou muitas pessoas, mesmo que ele não tenha apresentado uma plataforma de ação consistente nessa área.

A consolidação de grupos criminosos em regiões do interior e nas periferias das grandes cidades também foi um fator de vulnerabilidade para a esquerda. Em particular, o PT perdeu o apoio de sua base eleitoral de baixa e média renda nessas áreas, onde a exaustão causada pela violência criou um terreno fértil para a ascensão da direita.

A postura adotada pelos governantes do PT contribuiu para a desorientação. A experiência do partido na Bahia, durante um período marcado por incentivo à violência, aponta para duas possibilidades desfavoráveis: os políticos do PT não sabem como lidar com a segurança pública ou concordam com os métodos violentos defendidos por seus adversários.

Em resumo, a falta de discussão e a falta de políticas consistentes na área da segurança pública foram fatores que contribuíram para o fortalecimento da extrema direita e para a perda de apoio do PT em regiões afetadas pela violência. Agora, a esquerda precisa repensar suas estratégias e enfrentar os desafios colocados pela nova conjuntura política e social.

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