Repórter São Paulo – SP – Brasil

A reação do Sul Global às sanções impulsiona o crescimento do Brics.

Recentemente, o Irã alcançou o título de país não proscrito no Ocidente, como destacado em uma reportagem do renomado jornal New York Times. O país conseguiu conquistar “amigos poderosos” ao se juntar ao grupo conhecido pela sigla BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Embora esse grupo não possua uma clara coerência política, eles compartilham o desejo de remodelar o sistema financeiro e de governança global, para que seja mais diversificado e menos submisso aos Estados Unidos e ao dólar americano.

Durante anos, o Irã enfrentou sanções que o proibiam de realizar transações bancárias e vender petróleo. Diante desse cenário, o país voltou-se para o Oriente, motivado pela decisão do então presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do acordo nuclear firmado durante o governo Obama, apesar de Teerã ter cumprido todas as suas obrigações. A imposição de sanções por parte dos EUA levou as empresas europeias a se retirarem do Irã, mesmo o país possuindo a segunda maior reserva de gás do mundo, depois da Rússia.

Agora, o Irã pode se orgulhar de não ter sido isolado pelos Estados Unidos e está confiante para entrar nas negociações com os americanos. De fato, as negociações já tiveram início e um acordo foi alcançado, resultando na liberação de US$ 6 bilhões congelados pelo governo dos EUA na Coreia do Sul.

Outros veículos de imprensa, como o Financial Times, The Wall Street Journal, The Washington Post e Foreign Policy, já alertavam para a reação do Sul Global em relação às sanções. O Financial Times, por exemplo, publicou uma extensa reportagem destacando que a lista de sanções do Tesouro americano agora possui mais de 2.200 páginas e contém mais de 12.000 indivíduos, empresas, países e outros.

Diversos especialistas têm expressado desconforto em relação ao sistema financeiro baseado no dólar. Celso Amorim, assessor do ex-presidente Lula, afirmou que muitos países estão descontentes com esse sistema, principalmente por causa das sanções. Christopher Sabatini, da Chatham House, destacou o medo dos governos em relação à extraterritorialidade das sanções, que afetam cerca de um quarto da economia mundial, além da ameaça constante de que essas medidas possam ser usadas contra qualquer país a qualquer momento.

O Wall Street Journal apontou a ineficácia das sanções contra a Rússia, as quais resultaram em uma mudança sem precedentes no comércio russo, direcionando-o para parceiros asiáticos, especialmente China e Índia. Segundo a Foreign Policy, pesquisas realizadas por universidades como Princeton e Columbia indicam que o amor dos Estados Unidos pelas sanções pode levar à sua queda.

Além disso, o desafio ao domínio do dólar não se limita ao uso de moedas locais ou ao yuan chinês. A expansão de novas tecnologias para pagamentos internacionais, como o WeChat Pay na China, o UPI na Índia, o Pix no Brasil ou o M-Pesa no Quênia, tem gerado fissuras na posição outrora inabalável do dólar. Enquanto o Ocidente ainda estuda a possibilidade de moedas digitais e mantém sistemas de pagamento dominados pela Visa e Mastercard, as potências emergentes já avançaram no desenvolvimento e implementação dessas inovações.

Em resumo, o Irã tem alcançado um novo status no cenário mundial ao se juntar a países que desejam remodelar o sistema financeiro e de governança global. As sanções impostas pelos Estados Unidos não conseguiram isolar o país, e a reação do Sul Global a essas medidas tem sido significativa. Além disso, há uma crescente busca por alternativas ao domínio do dólar, impulsionada pelo desenvolvimento de novas tecnologias de pagamentos internacionais.

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