A Otan propõe que a Ucrânia se junte à aliança em troca de concessões territoriais para a Rússia.

No Sahel, a questão dos golpes militares tem ganhado destaque nos últimos meses. A possibilidade de uma intervenção da CEDEAO no Níger gerou forte reação por parte dos governos militares de Burquina Faso e Mali, que a consideraram uma “declaração de guerra” não só contra o Níger, mas também contra seus próprios países. Nesse contexto, líderes dos golpes nigerinos têm buscado apoio em outros países da região para enfrentar a possibilidade de uma intervenção militar.

Em agosto, o general Salifou Mody, um dos principais líderes do golpe no Níger, viajou para Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burquina Faso, para discutir a situação e coordenar uma resposta conjunta. Além disso, o general Moussa Salaou Barmou foi até Conakry, na Guiné, buscar o apoio desse país ao Níger.

Uma proposta também vem sendo levantada para a formação de uma federação que inclua Burquina Faso, Guiné, Mali e o próprio Níger. Essa federação seria composta por países que sofreram golpes, derrubando governos considerados pró-ocidentais, que não atendiam às expectativas das populações cada vez mais empobrecidas.

A história do golpe no Níger está diretamente ligada ao que a jornalista comunista Ruth First chamou de “o contágio do golpe” em seu livro de 1970. Ao longo dos últimos trinta anos, a política na região do Sahel se deteriorou significativamente. Partidos que tinham histórico nos movimentos de libertação nacional e até mesmo movimentos socialistas perderam sua representatividade, tornando-se meros intermediários de uma agenda ocidental.

A guerra na Líbia em 2011, travada pela França, Estados Unidos e OTAN, permitiu que grupos jihadistas saíssem do país e se estabelecessem no Sahel. Isso deu às elites locais e ao Ocidente a oportunidade de restringir ainda mais as liberdades sindicais e eliminar a esquerda dos partidos políticos. Os líderes políticos da região são, na verdade, “fantoches” do Ocidente, sem independência real.

Nesse contexto, os setores rurais e pequeno-burgueses que se sentem desprezados recorrem aos militares em busca de liderança. Figuras como o capitão Ibrahim Traoré, de Burquina Faso, e o coronel Assimi Goïta, do Mali, representam essas frações de classe mais amplas que foram abandonadas pelos programas de austeridade e pelo roubo de recursos pelas multinacionais ocidentais.

No entanto, é importante ressaltar que esses líderes militares não têm uma plataforma política bem definida. Eles são movidos pela raiva contra o fracasso das elites e da política ocidental, e não por uma agenda de esquerda construída a partir de tradições políticas. Por isso, ainda resta saber se a nomeação de um gabinete liderado por civis no Níger irá dividir as fileiras da CEDEAO.

Para as forças imperialistas ocidentais, principalmente os Estados Unidos, que têm tropas no Níger, a manutenção desses golpes na região não é favorável. A Europa, por sua vez, terá que se retirar para seu litoral, já que governos antifranceses estão no poder em três dos cinco estados do G-5 Sahel. E a possibilidade de intervenção militar na região é uma ameaça constante.

Diante desse cenário complexo, resta esperar e observar como a situação irá se desenvolver nos próximos meses, e como a população do Sahel irá enfrentar os desafios políticos e sociais que se apresentam.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo