Dorra é uma vítima da guerra da Bósnia, estuprada por cinco homens durante o conflito. Já Kate é uma psicóloga americana que trabalhou na equipe de escavação de valas comuns da Organização das Nações Unidas, mas pediu transferência para o centro que acolhia mulheres vítimas da guerra, onde encontra Dorra como paciente. A relação entre as duas é apresentada de maneira alternada, mostrando momentos de cura e enlouquecimento recíprocos.
A montagem, dirigida por Rodrigo Spina e estrelada pelas atrizes Rita Gullo e Carla Kinzo, traz um cenário minimalista concebido pela cenografista Carmela Rocha. Fragmentos da memória e dos conflitos internos de Dorra são projetados em sua barreira ao longo da peça, sempre submersos na metáfora de mar, em vídeos elaborados por Vera Egito e Kvpa.
Segundo Spina, a peça evidencia o lado jornalista de Visniec para um texto mais realista e menos pautado por seus flertes com o teatro do absurdo beckettiano. A obra aborda questões femininas, apesar de ser escrita e dirigida por homens. As atrizes Rita Gullo e Carla Kinzo ressaltam a importância de abrir espaços para que cada um fale em seu lugar de fala, mas também reconhecem a importância do teatro em abordar temáticas que não são necessariamente próprias dos artistas envolvidos.
O processo de criação da peça também incluiu encontros com mulheres vítimas de estupro, cujas opiniões colaboraram para a compreensão mais profunda de questões femininas e para mudanças no texto. A colaboração entre os artistas e a abertura para escutar outras vozes permitiram que a peça abordasse de maneira sensível e profunda temas tão complexos e delicados como os relacionados à guerra, estupro e trauma.
Com performances impactantes e uma temática poderosa, “A Mulher como Campo de Batalha” se despede do Sesc Belenzinho, deixando no ar a reflexão sobre as consequências devastadoras das guerras e os desafios enfrentados pelas mulheres em meio a conflitos.