A Morte de Ricardo Guilherme Dicke e a Atualidade de ‘Madona dos Páramos’: Entre o Mítico e o Moderno

O renomado autor Ricardo Guilherme Dicke, falecido em 2008 e enterrado em Cuiabá, é um dos autores brasileiros que melhor brincou de Deus através de sua obra “Madona dos Páramos”, escrita em 1982. A nova edição do romance revela a inscrição gravada em seu túmulo: “Deus é um grande mágico que fabrica realidades”, evidenciando a profundidade da obra e a dimensão imaginativa do autor.

No livro, Dicke apresenta um sertão fictício construído pela linguagem transbordante do autor, afastando-se da escrita seca e urbana comum na época. A narrativa traz um bando de jagunços fugitivos de um presídio, em busca da liberdade e a prometida terra mágica da Figueira-Mãe, onde esperam encontrar descanso após uma vida de sofrimentos.

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A habilidade do autor em reencantar a natureza, juntamente com diálogos sobre a existência do Diabo e do Inferno, contrasta com a narrativa exuberante em terceira pessoa, proporcionando uma fusão entre tempos míticos e modernos que se revela como um dos pontos de interesse contemporâneo na obra.

Ao explorar fazendas invadidas pelo bando, Dicke expõe a riqueza contrabandeada e a pilhagem capitalista internacional, refletindo a realidade do país na época do lançamento do romance, com lutas por sobrevivência nas periferias das grandes cidades e uma violência descrita com realismo feroz.

A obra de Dicke representa uma ponte entre dois tempos históricos, conectando o sertão-mundo ao cenário de chacinas que marcaria a cena nacional na década seguinte ao lançamento. Esses pontos duvidosos da obra são justamente o que garante o interesse contemporâneo em “Madona dos Páramos”.

A relevância do trabalho de Ricardo Guilherme Dicke se estende para além do romance, conectando-se à cena cultural e histórica do país, representando uma visão profunda e imaginativa do sertão e sua relação com o mundo. A obra permanece como um marco na literatura brasileira e possui uma atualidade que transcende o tempo em que foi escrita.

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