Repórter São Paulo – SP – Brasil

A CIA e o Nobel de Boris Pasternak: como o romance ‘Doutor Jivago’ foi usado para propaganda contra a União Soviética

O romance “Doutor Jivago” do escritor russo Boris Pasternak, conhecido por sua densidade e complexidade, recebeu um destaque inusitado ao ser revelado que sua consagração com o Prêmio Nobel foi impulsionada pela CIA. Durante décadas, milhões de leitores desfrutaram da obra sem saber dos bastidores políticos que a tornaram um best-seller internacional.

A agência de inteligência americana, em colaboração com parceiros do serviço de espionagem britânico, decidiu distribuir clandestinamente o original em russo na União Soviética, onde o governo de Nikita Kruschev havia banido o livro. Essa estratégia de lançamento, que aconteceu de forma sigilosa e passando de mão em mão, foi um sucesso, elevando a visibilidade e o impacto da obra de Boris Pasternak.

“Doutor Jivago” é uma narrativa épica que aborda temas como amor e convulsões políticas, ambientada em um período conturbado que antecede e sucede a Revolução Bolchevique de 1917. A CIA, em um memorando de 1958, reconheceu o potencial do romance como uma ferramenta de propaganda, capaz de questionar os valores do governo soviético e instigar os cidadãos a refletir sobre a realidade política em que viviam.

Atualmente, a questão da propaganda e da manipulação política continua presente, mesmo em um contexto pós-Guerra Fria. O livro “Autocracy, Inc.” da historiadora Anne Applebaum traz reflexões sobre o atual cenário de desinformação e polarização ideológica, destacando como regimes autoritários têm empregado estratégias de manipulação midiática para minar a democracia e promover seus interesses.

A obra de Applebaum explora como ditadores contemporâneos, como Vladimir Putin, têm utilizado redes transnacionais e operações sofisticadas para disseminar sua influência e controlar a narrativa pública. A autora destaca exemplos de agências de notícias financiadas por governos autoritários, que buscam influenciar a opinião pública em diversas regiões do mundo, sem que os cidadãos estejam plenamente cientes das motivações por trás dessas informações.

Em um contexto global de desafios democráticos, é fundamental que a sociedade esteja atenta às manipulações propagandísticas e busque fontes confiáveis de informação. O combate à desinformação e à influência indevida de regimes autoritários requer uma postura proativa por parte dos cidadãos e uma defesa contínua dos valores democráticos e da liberdade de expressão.

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